segunda-feira, 21 de agosto de 2017

MEDIEVAL - ORIGEM

Na Idade Média, ocorreu um intenso sincretismo entre o conhecimento clássico e as crenças religiosas. De fato, uma das principais preocupações dos filósofos medievais foi a de fornecer argumentações racionais, espelhadas nas contribuições dos gregos, para justificar as chamadas verdades reveladas da Igreja Cristã e da Religião Islâmica, tais como a da existência de Deus, a imortalidade da alma etc.
Principais períodos - Patrística (I d.C – VII d.C). É um período que se caracteriza pelo resultado dos esforços dos apóstolos (João e Paulo) e dos primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião com o pensamento filosófico mais corrente da época entre os gregos e os romanos. Não obstante, tomou como tarefa a defesa da fé cristã, frente as diversas críticas advindas de valores teóricos e morais dos “antigos”.
Os nomes mais salientes desse período são os de Justino, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de Nazianzo, Basílio, Gregório de Nissa. Eles representam a primeira tentativa de harmonizar determinados princípios da Filosofia grega (particularmente do Epicurismo, do Estoicismo e do pensamento de Platão) com a doutrina cristã. Eles não só estavam envolvidos com a tradição cultural helênica como também conviviam com filósofos estóicos, epicuristas, peripatéticos (sofistas), pitagóricos e neoplatônicos. Medieval (VIII d.C – XIV d.C): Período bastante influenciado pelo pensamento socrático e platônico (conhecido aqui como neoplatonismo, vindo da filosofia de Plotino). Ocupou-se em discutir e problematizar Questões Universais. É nesse período que o pensamento cristão firma-se como "Filosofia Cristã", que mais tarde se torna Teologia. Renascença (XIV d.C – XVI d.C): É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média e novas obras de Aristóteles, ainda temos a recuperação de trabalhos de grandes autores e artistas gregos e romanos. São três as linhas de pensamento: Neoplatonismo e Hermetismo; Pensamentos florentinos e por fim o Antropocentrismo iniciático (homem dono do seu destino). Foi um período marcado por uma efervescência teórica prática, alimentada principalmente por descobertas marítimas e crises político-culturais que culminaram em profundas críticas à Igreja Católica, que evoluíram para Reforma Protestante (a Igreja Católica responde com a Contra-Reforma e com a Inquisição).

O SURGIMENTO DA FILOSOFIA CRISTÃ

O panorama histórico onde se desenvolveu o pensamento filosófico cristão, apresenta aspectos controvertidos. Seus limites cronológicos são imprecisos: alguns historiadores iniciam a Idade Média com o Edito de Milão, em 313; outros, com o batismo de Constantino, em 337; outros, ainda, com a queda do imperador Rômulo Augusto, destronado por Odoacro, rei dos hérulos, em 476, quando se instalou o domínio dos bárbaros sobre o império romano do ocidente. O final da Idade Média é, geralmente, fixado com a queda do império romano do oriente, em 1453, quando os turcos tomaram Constantinopla. A noção de Idade Média também gera controvérsias; alguns a entenderam como mero intervalo cronológico entre duas culturas (a antiguidade clássica e o renascimento); outros, como um conceito cultural. Foi considerada como intervalo cronológico, principalmente pelos renascentistas e os iluministas do século XVIII, para eles, a Idade Média foi vazia de arte, ciência e filosofia: foi a idade das sombras e das trevas. O SURGIMENTO DA 
FILOSOFIA CRISTÃ - Como conceito cultural, ao contrário, a Idade Média apresenta um ideal de vida cultural, política e religiosa, que deixou marcas estáveis na arte, na organização social e política e na cultura. Por exemplo, a construção das catedrais românicas e góticas, a fundação das primeiras universidades como Paris e Oxford, do império de Carlos Magno, da Suma Teológica de Tomás de Aquino e da Divina Comédia de Dante e consideraremos impossível pensar a Idade Média como uma longa noite de mil anos que se estendeu entre o classicismo e o renascimento. Muitas formas de pensamento marcaram essa época. Três características parecem ter sido comuns às várias tendências da filosofia medieval e que contrastam com o pensamento antigo e moderno: 1) a estreita relação entre filosofia e religião, isto é, entre filosofia e teologia, que foi sintetizada na frase - philosophia ancilla theologiae (a filosofia é serva da filosofia); 2) a influência de Aristóteles em todos os campos (lógica, ética, filosofia natural e metafísica), como fator decisivo na formação do pensamento medieval; 3) a unidade de método (a questio e a disputatio), que é, ao mesmo tempo, método de exposição e de investigação. Não resta a menor dúvida de que, tanto a revelação cristã como a razão aristotélica agiram em conjunto para a formação da visão do mundo do homem medieval. O advento do Cristianismo originou novas concepções de vida, do   homem e de Deus, que desafiaram o pensamento filosófico. Era necessário mostrar que seus problemas e respectivas soluções não contradiziam a razão, isto é, que a fé não se contrapunha à racionalidade, sem que com isso fosse preciso circunscrever a revelação divina aos limites da razão humana. O pensamento clássico encontrara um desenvolvimento e amadurecimento tão grandes, que seria impossível ignorá-lo; no entanto, fazia-se necessária uma nova sistematização, elaborada a partir dos problemas já pensados pela filosofia pagã, conjugados com os agora propostos pelo Cristianismo. Assim, a filosofia cristã ocupou-se da assimilação das novas experiências no contexto da filosofia clássica. O Cristianismo transporta o cerne da filosofia do cosmos para o homem - de cosmocêntrica ou geocêntrica, como na filosofia grega (principalmente a aristotélica), passa a homocêntrica, descobrindo que o seu verdadeiro problema é o homem; assim, dois grandes temas irão nortear a filosofia medieval: o homem e Deus. A filosofia cristã comportou dois grandes períodos: a filosofia dos Padres da Igreja, ou Patrística, que foi até o século V, e a filosofia dos Doutores da Igreja, ou Escolástica, que foi até o século XIV.
A Patrística se desenvolveu num ambiente altamente influenciado pela filosofia grega e dela se valeu para esclarecer e defender o novo conteúdo da fé. O Neoplatonismo, contemporâneo da Patrística, teve grande ascendência sobre os primeiros escritores cristãos. Encontramos, nessa época, duas tendências opostas: de um lado, os padres da Igreja oriental ou grega, que pretenderam harmonizar o pensamento grego com a religião cristã; de outro, os padres da Igreja ocidental ou latina, que combateram a cultura pagã. A filosofia foi utilizada para defender a religião cristã dos ataques dos seus adversários pagãos e gnósticos (gnosticismo - ecletismo filosófico e religioso que gerou a heresia gnóstica: redução da criação e redenção cristãs a fenômenos naturais), e para prestar ajuda na justificação dos dogmas (pontos fundamentais e indiscutíveis de uma doutrina religiosa). A Patrística não nos legou nenhum sistema filosófico cristão; a maioria das questões de que tratou derivou de polêmicas doutrinárias e de tentativas de sua resolução. Até Santo Agostinho, a Patrística foi ocasional e fragmentária. 

PATRÍSTICA 

Alguns representantes da Patrística: Os primeiros padres da Igreja escreveram em defesa (apologia) da nova religião e por isso foram chamados de Apologistas. São Justino, padre apologista grego, foi considerado o fundador da Patrística; viveu no século II e morreu mártir em Roma. Entre os apologistas latinos, deve ser citado Tertuliano de Cartago que nasceu na metade do século II e morreu em Roma, em 240. Dos apologistas da Igreja oriental devem ser lembrados Clemente (fins do século II - início do III) e Orígenes (século III), o maior dos pensadores cristãos anteriores a Agostinho. As grandes discussões sobre os dogmas e a refutação das heresias foram, pouco a pouco, desenvolvendo a filosofia cristã e deram aos seus defensores a estatura de filósofos à altura dos seus antecessores na antiguidade clássica.Do século V ao século VIII, com a queda do Império Romano, decaiu a produção intelectual, a ponto de podermos dizer que não se conhece nada de original no pensamento dessa época. Trata-se do período denominado Alta Idade Média, quando a Igreja cuidou de compilar em manuais os conhecimentos antigos. A filosofia, sem o concurso de homens que se dedicassem à especulação, ficou estacionária. Pode-se caracterizar esse período por dois importantes fatores: 1) a expansão dos horizontes geográficos; 2) o avanço dos impérios asiáticos e do mundo muçulmano. Foi em Bizâncio, no Islã, e nos impérios asiáticos, que floresceram grandes civilizações e onde se conservou a cultura de Roma e da Grécia antigas. Assim, surgiu o segundo período da filosofia cristã: a Escolástica, ou filosofia das escolas, ensinada nas escolas e predominante na Europa, do século XI ao século XIV. Duas vertentes nortearam o pensamento dessa época: 1) a tradição religiosa, que, como princípio de autoridade que pertence à Igreja, determinou a investigação intelectual e protegeu o pensamento contra os erros; 2) a doutrina filosófica (no início, a platônica-agostiniana e depois a aristotélica), que serviu de instrumento para essa investigação. 

ESCOLÁSTICA 

Nos primórdios da Escolástica, não encontramos nada de original. Somente um pensador, Scotus Erígena, não pode ser dito um copiador: ele procurou amalgamar ideias platônicas e neo-platônicas com elementos do pensamento cristão da Patrística e de Agostinho. De Aristóteles, só se conhecia os livros de Lógica. No século X, decaíram muito os estudos e só no século XI se iniciou alguma reação. Com o estudo da Dialética, o interesse dos estudiosos voltou-se para o problema dos universais, que foi o tema mais debatido no século XI. O universal é um conceito ou ideia que tem uma essência comum a muitos seres e que, portanto, deve ser aplicável a todos esses seres. Por exemplo, o conceito de homem representa uma essência, animal racional, que vai permanecer sempre a mesma, indiferentemente de a quantos indivíduos do mesmo gênero (homem) se aplique (e a todos deve ser aplicável) e à distinta aparência que esses indivíduos possam ter. O primeiro escolástico de destaque foi Santo Anselmo de Aosta (1035-1109), que seguiu as ideias de Agostinho e construiu suas ideias principais baseado no realismo. A seguir, deve-se citar Abelardo (1079-1142), mais inclinado ao conceitualismo. Vários outros estudiosos trataram do problema dos universais, mas foi no século XIII que a Escolástica atingiu seu maior vigor e encontrou soluções notáveis. Deve-se levar em conta as circunstâncias que influenciaram o ambiente que viu surgir os grandes sistemas filosóficos e teológicos da Baixa Idade Média. No século XI, a Europa assistiu o ressurgimento do interesse pelo estudo. Isso não quer dizer que em outras partes do mundo não tenha havido interesse especulativo. A filosofia árabe, orientada principalmente pelo interesse científico, teve em dois médicos seus representantes mais notáveis: Avicena, no Oriente (morto em 1037) e Averroes de Córdoba, no Ocidente (1126-1198). Os estudiosos árabes dedicaram-se, fundamentalmente, ao estudo de Aristóteles, mas de um Aristóteles que conheceram através da interpretação de comentadores neo-platônicos e não da obra do próprio Estagirita. Foi esse Aristóteles, neo-platonizado e traduzido do grego ao siríaco e do siríaco ao árabe, que os árabes legaram ao Ocidente; no entanto, não se pode negar o imenso valor que teve para a cultura o empenho dos árabes na conservação do pensamento antigo, justamente na época em que a cultura ocidental mais decaiu. Os árabes se preocuparam em conciliar os ensinamentos do Alcorão, que são matéria de fé, com a indagação racional, através da filosofia grega, mais especificamente do aristotelismo e do néo- platonismo. Assim, aproximam-se da escolástica latina, uma vez que se pode afirmar que o fator mais decisivo no pensamento do século XII foi a descoberta de Aristóteles através dos árabes, quando seus livros de física, metafísica e ética passaram da Espanha para o resto da Europa. Outros dois fatores que contribuíram para o florescimento da escolástica foram as Universidades e a atividade cultural dos Dominicanos e dos Franciscanos. Tal como os filósofos cristãos, também os árabes 

A FILOSOFIA ÁRABE 

Tal como os filósofos cristãos, também os árabes tentaram conciliar o conteúdo da revelação com a filosofia, ou melhor, esforçaram-se por explicar racionalmente a verdade revelada através da filosofia. Pretendiam perpassar a obscuridade da fé com a luz da razão natural. Trata-se de conciliar a fé com a razão, síntese que muitas vezes culmina em modos originais de pensar. O pensamento rígido do Corão e dos tradicionalistas chocou muitas vezes com a cosmovisão platônica e aristotélica, sobretudo nas concepções da criação e da ação divina sobre o mundo. Os árabes tiveram contato com a filosofia grega através dos territórios conquistados onde predominava a cultura helênica e assim conheceram obras gregas no campo da medicina, matemática e filosofia. Através da traduções feitas pelos judeus de Espanha dos comentadores de Aristóteles, os europeus puderam conhecer a maior parte do corpus aristotelicum, que era desconhecido até então. O que mais se conhecia de Aristóteles era somente a lógica, depois, através dos comentadores árabes, juntou-se a metafísica, a física, a ética e a psicologia. 

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