Na Idade Média, ocorreu um intenso sincretismo entre o conhecimento clássico e as
crenças religiosas. De fato, uma das principais preocupações dos filósofos medievais
foi a de fornecer argumentações racionais, espelhadas nas contribuições dos
gregos, para justificar as chamadas verdades reveladas da Igreja Cristã e da Religião
Islâmica, tais como a da existência de Deus, a imortalidade da alma etc.
Principais períodos - Patrística (I d.C – VII d.C). É um período que se caracteriza pelo resultado dos esforços dos apóstolos (João e
Paulo) e dos primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião com o
pensamento filosófico mais corrente da época entre os gregos e os romanos. Não
obstante, tomou como tarefa a defesa da fé cristã, frente as diversas críticas
advindas de valores teóricos e morais dos “antigos”.
Os nomes mais salientes desse período são os de Justino, Tertuliano, Clemente de
Alexandria, Orígenes, Gregório de Nazianzo, Basílio, Gregório de Nissa. Eles representam a primeira tentativa de harmonizar determinados princípios da
Filosofia grega (particularmente do Epicurismo, do Estoicismo e do pensamento de
Platão) com a doutrina cristã. Eles não só estavam envolvidos com a tradição cultural helênica como também
conviviam com filósofos estóicos, epicuristas, peripatéticos (sofistas), pitagóricos e
neoplatônicos. Medieval (VIII d.C – XIV d.C): Período bastante influenciado pelo pensamento socrático e platônico (conhecido
aqui como neoplatonismo, vindo da filosofia de Plotino). Ocupou-se em discutir e
problematizar Questões Universais. É nesse período que o pensamento cristão
firma-se como "Filosofia Cristã", que mais tarde se torna Teologia. Renascença (XIV d.C – XVI d.C): É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média e
novas obras de Aristóteles, ainda temos a recuperação de trabalhos de grandes
autores e artistas gregos e romanos. São três as linhas de pensamento:
Neoplatonismo e Hermetismo; Pensamentos florentinos e por fim o
Antropocentrismo iniciático (homem dono do seu destino). Foi um período marcado por uma efervescência teórica prática, alimentada
principalmente por descobertas marítimas e crises político-culturais que
culminaram em profundas críticas à Igreja Católica, que evoluíram para Reforma
Protestante (a Igreja Católica responde com a Contra-Reforma e com a
Inquisição).
O SURGIMENTO DA FILOSOFIA CRISTÃ
O panorama histórico onde se desenvolveu o pensamento filosófico cristão, apresenta
aspectos controvertidos. Seus limites cronológicos são imprecisos: alguns
historiadores iniciam a Idade Média com o Edito de Milão, em 313; outros, com o
batismo de Constantino, em 337; outros, ainda, com a queda do imperador Rômulo
Augusto, destronado por Odoacro, rei dos hérulos, em 476, quando se instalou o
domínio dos bárbaros sobre o império romano do ocidente. O final da Idade Média é, geralmente, fixado com a queda do império romano do
oriente, em 1453, quando os turcos tomaram Constantinopla. A noção de Idade Média também gera controvérsias; alguns a entenderam como
mero intervalo cronológico entre duas culturas (a antiguidade clássica e o
renascimento); outros, como um conceito cultural. Foi considerada como intervalo cronológico, principalmente pelos renascentistas e
os iluministas do século XVIII, para eles, a Idade Média foi vazia de arte, ciência e
filosofia: foi a idade das sombras e das trevas.
O SURGIMENTO DA
FILOSOFIA CRISTÃ - Como conceito cultural, ao contrário, a Idade Média apresenta um ideal de vida
cultural, política e religiosa, que deixou marcas estáveis na arte, na organização
social e política e na cultura. Por exemplo, a construção das catedrais românicas e góticas, a fundação das
primeiras universidades como Paris e Oxford, do império de Carlos Magno, da Suma
Teológica de Tomás de Aquino e da Divina Comédia de Dante e consideraremos
impossível pensar a Idade Média como uma longa noite de mil anos que se estendeu
entre o classicismo e o renascimento. Muitas formas de pensamento marcaram essa época. Três características parecem
ter sido comuns às várias tendências da filosofia medieval e que contrastam com o
pensamento antigo e moderno: 1) a estreita relação entre filosofia e religião, isto é, entre filosofia e teologia, que foi
sintetizada na frase - philosophia ancilla theologiae (a filosofia é serva da filosofia); 2) a influência de Aristóteles em todos os campos (lógica, ética, filosofia natural e
metafísica), como fator decisivo na formação do pensamento medieval; 3) a unidade de método (a questio e a disputatio), que é, ao mesmo tempo, método
de exposição e de investigação. Não resta a menor dúvida de que, tanto a revelação cristã como a razão aristotélica
agiram em conjunto para a formação da visão do mundo do homem medieval. O advento do Cristianismo originou novas concepções de vida, do homem e de
Deus, que desafiaram o pensamento filosófico. Era necessário mostrar que seus
problemas e respectivas soluções não contradiziam a razão, isto é, que a fé não se
contrapunha à racionalidade, sem que com isso fosse preciso circunscrever a
revelação divina aos limites da razão humana. O pensamento clássico encontrara um desenvolvimento e amadurecimento tão
grandes, que seria impossível ignorá-lo; no entanto, fazia-se necessária uma nova
sistematização, elaborada a partir dos problemas já pensados pela filosofia pagã,
conjugados com os agora propostos pelo Cristianismo. Assim, a filosofia cristã
ocupou-se da assimilação das novas experiências no contexto da filosofia clássica. O Cristianismo transporta o cerne da filosofia do cosmos para o homem - de
cosmocêntrica ou geocêntrica, como na filosofia grega (principalmente a
aristotélica), passa a homocêntrica, descobrindo que o seu verdadeiro problema
é o homem; assim, dois grandes temas irão nortear a filosofia medieval: o homem
e Deus. A filosofia cristã comportou dois grandes períodos: a filosofia dos Padres da
Igreja, ou Patrística, que foi até o século V, e a filosofia dos Doutores da Igreja, ou
Escolástica, que foi até o século XIV.
A Patrística se desenvolveu num ambiente altamente influenciado pela filosofia
grega e dela se valeu para esclarecer e defender o novo conteúdo da fé. O
Neoplatonismo, contemporâneo da Patrística, teve grande ascendência sobre os
primeiros escritores cristãos. Encontramos, nessa época, duas tendências opostas: de um lado, os padres da
Igreja oriental ou grega, que pretenderam harmonizar o pensamento grego com a
religião cristã; de outro, os padres da Igreja ocidental ou latina, que combateram a
cultura pagã. A filosofia foi utilizada para defender a religião cristã dos ataques dos seus
adversários pagãos e gnósticos (gnosticismo - ecletismo filosófico e religioso que
gerou a heresia gnóstica: redução da criação e redenção cristãs a fenômenos
naturais), e para prestar ajuda na justificação dos dogmas (pontos fundamentais e
indiscutíveis de uma doutrina religiosa). A Patrística não nos legou nenhum sistema filosófico cristão; a maioria das questões
de que tratou derivou de polêmicas doutrinárias e de tentativas de sua resolução.
Até Santo Agostinho, a Patrística foi ocasional e fragmentária.
PATRÍSTICA
Alguns representantes da Patrística: Os primeiros padres da Igreja escreveram em defesa (apologia) da nova
religião e por isso foram chamados de Apologistas. São Justino, padre apologista grego, foi considerado o fundador da
Patrística; viveu no século II e morreu mártir em Roma. Entre os apologistas latinos, deve ser citado Tertuliano de Cartago que
nasceu na metade do século II e morreu em Roma, em 240. Dos apologistas da Igreja oriental devem ser lembrados Clemente (fins do
século II - início do III) e Orígenes (século III), o maior dos pensadores
cristãos anteriores a Agostinho. As grandes discussões sobre os dogmas e a refutação das heresias foram,
pouco a pouco, desenvolvendo a filosofia cristã e deram aos seus
defensores a estatura de filósofos à altura dos seus antecessores na
antiguidade clássica.Do século V ao século VIII, com a queda do Império Romano, decaiu a produção
intelectual, a ponto de podermos dizer que não se conhece nada de original no
pensamento dessa época. Trata-se do período denominado Alta Idade Média, quando
a Igreja cuidou de compilar em manuais os conhecimentos antigos. A filosofia, sem o
concurso de homens que se dedicassem à especulação, ficou estacionária. Pode-se caracterizar esse período por dois importantes fatores: 1) a expansão dos
horizontes geográficos; 2) o avanço dos impérios asiáticos e do mundo muçulmano.
Foi em Bizâncio, no Islã, e nos impérios asiáticos, que floresceram grandes civilizações
e onde se conservou a cultura de Roma e da Grécia antigas. Assim, surgiu o segundo período da filosofia cristã: a Escolástica, ou filosofia das
escolas, ensinada nas escolas e predominante na Europa, do século XI ao século XIV. Duas vertentes nortearam o pensamento dessa época: 1) a tradição religiosa, que,
como princípio de autoridade que pertence à Igreja, determinou a investigação
intelectual e protegeu o pensamento contra os erros; 2) a doutrina filosófica (no
início, a platônica-agostiniana e depois a aristotélica), que serviu de instrumento para
essa investigação.
ESCOLÁSTICA
Nos primórdios da Escolástica, não encontramos nada de original. Somente um
pensador, Scotus Erígena, não pode ser dito um copiador: ele procurou amalgamar
ideias platônicas e neo-platônicas com elementos do pensamento cristão da
Patrística e de Agostinho. De Aristóteles, só se conhecia os livros de Lógica. No século X, decaíram muito os estudos e só no século XI se iniciou alguma reação.
Com o estudo da Dialética, o interesse dos estudiosos voltou-se para o problema
dos universais, que foi o tema mais debatido no século XI. O universal é um conceito ou ideia que tem uma essência comum a muitos seres e
que, portanto, deve ser aplicável a todos esses seres. Por exemplo, o conceito de
homem representa uma essência, animal racional, que vai permanecer sempre a
mesma, indiferentemente de a quantos indivíduos do mesmo gênero (homem) se
aplique (e a todos deve ser aplicável) e à distinta aparência que esses indivíduos
possam ter. O primeiro escolástico de destaque foi Santo Anselmo de Aosta (1035-1109), que
seguiu as ideias de Agostinho e construiu suas ideias principais baseado no
realismo. A seguir, deve-se citar Abelardo (1079-1142), mais inclinado ao
conceitualismo. Vários outros estudiosos trataram do problema dos universais, mas foi no século
XIII que a Escolástica atingiu seu maior vigor e encontrou soluções notáveis. Deve-se
levar em conta as circunstâncias que influenciaram o ambiente que viu surgir
os grandes sistemas filosóficos e teológicos da Baixa Idade Média. No século XI, a Europa assistiu o ressurgimento do interesse pelo estudo. Isso não
quer dizer que em outras partes do mundo não tenha havido interesse
especulativo. A filosofia árabe, orientada principalmente pelo interesse científico, teve em dois
médicos seus representantes mais notáveis: Avicena, no Oriente (morto em 1037)
e Averroes de Córdoba, no Ocidente (1126-1198). Os estudiosos árabes dedicaram-se,
fundamentalmente, ao estudo de Aristóteles, mas de um Aristóteles que
conheceram através da interpretação de comentadores neo-platônicos e não da
obra do próprio Estagirita. Foi esse Aristóteles, neo-platonizado e traduzido do grego ao siríaco e do
siríaco ao árabe, que os árabes legaram ao Ocidente; no entanto, não se
pode negar o imenso valor que teve para a cultura o empenho dos árabes
na conservação do pensamento antigo, justamente na época em que a
cultura ocidental mais decaiu. Os árabes se preocuparam em conciliar os ensinamentos do Alcorão, que
são matéria de fé, com a indagação racional, através da filosofia grega,
mais especificamente do aristotelismo e do néo- platonismo. Assim,
aproximam-se da escolástica latina, uma vez que se pode afirmar que o
fator mais decisivo no pensamento do século XII foi a descoberta de
Aristóteles através dos árabes, quando seus livros de física, metafísica e
ética passaram da Espanha para o resto da Europa. Outros dois fatores que contribuíram para o florescimento da escolástica
foram as Universidades e a atividade cultural dos Dominicanos e dos
Franciscanos. Tal como os filósofos cristãos, também os árabes
A FILOSOFIA ÁRABE
Tal como os filósofos cristãos, também os árabes tentaram
conciliar o conteúdo da revelação com a filosofia, ou melhor,
esforçaram-se por explicar racionalmente a verdade revelada
através da filosofia. Pretendiam perpassar a obscuridade da fé
com a luz da razão natural. Trata-se de conciliar a fé com a
razão, síntese que muitas vezes culmina em modos originais
de pensar. O pensamento rígido do Corão e dos tradicionalistas chocou
muitas vezes com a cosmovisão platônica e aristotélica,
sobretudo nas concepções da criação e da ação divina sobre o
mundo. Os árabes tiveram contato com a filosofia grega através dos
territórios conquistados onde predominava a cultura helênica
e assim conheceram obras gregas no campo da medicina,
matemática e filosofia. Através da traduções feitas pelos
judeus de Espanha dos comentadores de Aristóteles, os
europeus puderam conhecer a maior parte do corpus
aristotelicum, que era desconhecido até então. O que mais se
conhecia de Aristóteles era somente a lógica, depois, através
dos comentadores árabes, juntou-se a metafísica, a física, a
ética e a psicologia.