Sócrates e Platão e seus escritos sobre a morte
Sócrates
Bocayuva (2007 como citado em Denucci, 2008), afirma que a morte também era um mistério para Sócrates, ele se detinha a dizer que não havia como saber se o fim da vida seria bom ou ruim, visto que não se tinha como saber, pois ninguém a conhece, ele considerava fazer após a morte o que sua razão ditava como correto, mesmo que depois da vida houvesse aniquilação ou outra vida. Sócrates ainda aponta que não há motivo para temer a morte e sim uma má vida, que para ele se caracteriza como uma vida que não é regida segundo o que a razão diz ser melhor.
Para Sócrates a morte só será boa se assim como “será boa a vida na medida em que a alma se harmonize através do processo de eliminação gradual das falsas opiniões de modo a torná-la uma imagem do cosmo” (Denucci, 2008). Sócrates também diz que não se deve desejar viver a qualquer custo, ou dessa mesma forma escapar da morte para viver, mas deve-se sim, viver bem. Nesse ponto ele considera a dor física, se for por um bem viver, um mal necessário, tratamentos para uma cura posterior.
Há casos também em que a derradeira morte se apresenta como inevitável-mas aí não cabe amargurar os últimos dias com tristezas, mas sim aproveitar ao máximo o que resta e aceitar o inevitável. Esta morte não é a negação da vida, mas a conclusão dela, tempo de fazer o balanço de uma existência e contemplá-la, tempo de despedir-se dos seus. Bocayuva (2007 como citado em Denucci, 2008, p. 158)
A morte de Sócrates foi, de certa forma a uma escolha, onde ele poderia escolher entre uma vida degradante e a morte, e para ele que amava o bem viver e não apenas a vida por si só,
[...] não quis destruir sua obra e a bela harmonia de sua alma em nome de um patético e torpe prolongamento de seus anos. Se Sócrates optasse por viver a todo custo, na verdade teria uma vida sem sentido algum e desprovida de dignidade. Sócrates percebeu que a morte naquele momento seria um fim adequado e belo para a sua vida, fim que completaria sua obra e manteria até o fim a harmonia de sua alma. Bocayuva (2007 como citado em Denucci, 2008, p. 158)
Visto isso, Denucci diz que Sócrates primou em sua vida e em sua morte não viver a todo custo e sim a harmonia de sua alma.
Sócrates, citado por Dastur (2002), sugere que o medo da morte é algo antinatural, pois se baseia na noção de que se conhece algo que se desconhece. A relação do ser humano com a morte vem se transformando através dos séculos, e já foi considerada como um acontecimento natural, inevitável e perfeitamente aceito. Essa relação anterior de familiaridade com a morte possui hoje outra conotação na cultura ocidental, visto que as pessoas se sentem desconfortáveis perante ela.
Platão
Platão em seu livro A República do Filosofo fala sobre o prolongamento da vida em caso de doença incurável, Platão demonstra-se a favor do que hoje chamamos de eutanásia, ele ainda diz que o prolongamento de uma vida dessa forma, vai de encontro com a condição de finitude da vida. Seu argumento se mantém lembrado, de certa forma, até hoje. (Siqueira-Batista & Schramm, 2004)
Siqueira-Batista & Scharamm (2004) afirma que Platão também diz que o uso de fármacos deve ser levado em conta apenas em enfermidades mais sérias, que causariam danos à vida – salvo em casos que a doença for incurável, ratificando o que já foi dito – deixando, assim, as mais leves seguirem seu curso.
O prolongamento da vida é abominado por Platão não só em relação aos remédios, mas também a ginásticas e dietas, ele fala que essas posturas acabam por dificultar as atividades políticas dos homens. (Siqueira-Batista & Schramm, 2004)
Segundo Siqueira-Batista e Schramm (2004), Platão ainda diz que não vale apena viver uma vida onde é necessário se esquivar da morte. A partir do pensamento de Platão é claro a preocupação com a política coletiva, para ele não se faz diferença entre os homens no que diz respeito a deixar de existir quando não há o mínimo de sentido ou qualidade de vida na condição da vida de homens e cidadãos.
Sob a ótica de Siqueira-Batista e Schramm (2004), Platão coloca que esse prolongamento da vida também suscita discussões sobre o valor econômico desse prolongamento. O coletivo necessitaria levantar fundos para manter uma vida desenganada.
Em suma, há uma gama de impossibilidades para manter uma vida que não vale à pena ser vivida, que vai desde o bem-estar do indivíduo, até os gastos para mantê-lo vivo. (Siqueira-Batista & Schramm, 2004).
Referências Bibliográficas
Dinucci, A.(2008). A bela morte é o fim da bela vida de Sócrates. Aisthe, 1(2), 155-159
Siqueira-Batista, R., Schram, F. R.(2004). A filosofia de Platão e o debate bioético sobre o fim da vida: interseções no campo da Saúde Pública. Cad. Saúde Pública, 20(3), 855-865. Recuperado em 13 fevereiro de, 2012, dehttp://www.scielo.br/pdf/csp/v20n3/23.pdf.