A morte segundo Sêneca
Sêneca
Lucius Annaeus Sêneca, filósofo nascido em Córdoba em 4 a.c . Segundo Marcondes (2007) foi um dos principais representantes do “novo estoicismo”, ou “estoicismo imperial”. Foi condenado à morte por Nero, sendo obrigado a cometer suicídio. Sêneca teve uma vida brilhante quando tomado como base sua obra e um fim trágico tomando como base sua morte. E é sua visão sobre a morte que será pormenorizada no decorrer do texto.
Segundo Seibt (2009), na ótica do pensamento estoico ao qual Sêneca está relacionado, as pessoas precisam aprender em vida aquilo que só a morte pode ensinar. O ato de encarar a ideia de finitude não deve ser feito de forma que leve ao desespero, mas que sirva para subsidiar a consciência de um viver melhor. Tal ato pode não se dar de forma fácil, pois segue no caminho inverso que o homem está acostumado a pensar, pensamentos estes trilhados na ideia da vida infinita.
Sêneca (2007 como citado em Seibt, 2009, p. 374) afirma em seus escritos sobre a morte que as pessoas lamentam que suas vidas sejam breves por demais, responde ele que o que importa não mora no fato da vida ser curta ou longa, mas na forma que esta é vivida. Segundo o filósofo:
"Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos grande parte dela (...) Se desperdiçada no luxo ou na indiferença, se nenhuma obra é concretizada, por fim, se não se respeita nenhum valor, não realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai”. Sêneca (2007 como citado em Seibt 2009, p. 374).
Sêneca aponta atitudes que configuram esse desperdício no viver, a saber:
"Insaciável ganância, trabalhos supérfluos, a embriaguez, a gula, a inércia, a preocupação com a opinião alheia, a busca da adulação de superiores, a inveja pelo destino alheio, a falta de objetivos, a falta de rumo na vida, os bens (riquezas), preocupação com a eloquência, a necessidade de mostrar talento, a libertinagem, paixões ávidas, conversas inúteis, a glória, a avareza, a raiva, além de outros". Sêneca (2007 como citado em Seibt, 2009, p.375)
O autor aponta que é indispensável que o autoconceito, a autoavaliação, a autocrítica estejam presentes na vida das pessoas, para que elas não trilhem o caminho das atitudes citadas por Sêneca como norteadoras do desperdício da vida.
Bebendo na fonte senequiana, pode-se afirmar que o homem precisa aprender a morrer para que possa viver de forma proveitosa, o homem precisa vivenciar a possibilidade de sua finitude para que possa viver a vida sem medos. Para Sêneca para prolongar a vida é preciso aprender com aqueles que ensinam a morrer.
Sêneca em suas cartas a Lucílio (2008 como citado em Seibt, 2009) pontua que a morte não reside apenas no fim da existência, mas que morre-se à cada dia, um fato que é alojado nos arcabouços do passado pode ser considerado como morto. “Morremos todo dia, pois todo dia nos é tirada uma parte de nossa vida: à medida que a idade aumenta nossa vida diminui” Sêneca (2002 como citado em Seibt, 2009, p. 376). Segundo ele, quem se recusa a morrer está se recusando a viver.
Versando sobre o suicídio Sêneca e os Estoicos defendem sua prática como fuga de uma realidade infeliz. “Deve-se preferir a mais imunda morte a mais limpa servidão”. Sêneca (2008 como citado em Seibt, 2009, p. 376)
Em suma pode-se afirmar que na ótica de Sêneca a morte não deve ser deixada em último plano nos pensamentos e nas vivências humanas, visto que a mesma está presente em toda a vida. O filósofo prega que para ter uma boa morte, além de se preocupar em ter uma boa vida é preciso não encarar a finitude de forma desastrosa, mas como pilar para viver bem.
Referências Bibliográficas
Seibt, C. L. (2009) Sêneca e a finitude da vida- o que a finitude pode pensar sobre o viver. Integração, 15(59), 371-378,
Marcondes, D. (2007). Introdução à História da Filosofia: Dos Filósofos Pré-socráticos a Wittgenstein (11ª Ed.). Rio de Janeiro: Zahar